sábado, 25 de julho de 2009

patchwork

Sábado de frio e chuva, tempo nublado. Caminhando pelas ruas logo pela manhã, meu senso de observação está mais aguçado que de costume. As cores estão vivas depois da chuva. O verde é intensamente mais verde, o marrom e assim por diante. Parece que às árvores foi atribuída uma sobrevida, algo que não estava ali antes da água que veio do céu.

Cedo vi na tv um barco que cortava o rio Negro. O nascer do sol tingindo as águas amazônicas... A música era clássica. Na sonoridade se destacava um solo de violino. Me perdi tão profundamente naquilo e, ao caminhar agora a pouco, essa sensação me envolveu novamente.

Nessa altura já estou atravessando a praça. Bem no centro dela, existe uma bela estátua. Levanto os olhos e a imagem de Nossa Senhora me ocupa por um tempo. Acima dela um céu cortado por galhos. Maria. Me vem à mente a imagem de um sorriso branco e olhos doces. Espanto a visão que a saudade insiste em trazer de volta.

Dia desses, a memória me trouxe o apocalipse. Agora, caminhando, me lembrei de novo. Por isso, resolvi passar num sebo e comprar a bíblia. Embora o Apocalipse faça parte do novo testamento, na bíblia hoje me interessa o antigo. Me atrai a face cruel de Deus, muito clara ali. O ser apoteótico que mata sem piedade.

Nessa minha caminhada, venho costurando lembranças. Ao recolher tanto cheiro, sons, imagens, me dou conta que talvez eu tenha sido presenteada com essa percepção aguçada. Sinto que muito provavelmente isso me ajude a recolher matéria-prima para construir alguma coisa.

Com o meu recém-adquirido antigo testamento nas mãos, termino a caminhada. A vida é assim. Há momentos em que tudo faz sentido. Instantes depois, sentido algum.

Um comentário:

fernanda magalhães disse...

oi bolinhas amarelas, foi uma delícia vc aqui em casa. o post que eu tinha falado era o do escapulário. mas hoje li vários outros também. adoro suas postagens. e adoro você. beijinhos