quarta-feira, 11 de março de 2009

o tempo


É possível arrancar um amor do corpo, da alma. É um processo solitário, que exige disciplina e distanciamento.

É como largar um vício. Como viver o luto. Um dia, mais um dia e outro sem o que amamos. O amor vai sendo morto.

Não é preciso ficar impassível diante do amor que morre. É bom que se chore, que se desespere, que a dor venha e ocupe tudo, porém solitariamente. É momento de abdicar.

Isso não é se fechar para a vida. É limpar a alma para que outro amor a ocupe, até quando este novo amor for embora novamente. O corpo nega o desejo e se prepara para o novo prazer, que certamente virá.

"Pousa um momento,
Um só momento em mim,
Não só o olhar, também o pensamento.
Que a vida tenha fim
Nesse momento!

No olhar a alma também
Olhando-me, e eu a ver
Tudo quanto de ti teu olhar tem.
A ver até esquecer
Que tu és tu também

Só tua alma! sem tu
Só o teu pensamento
E eu vendo, alma sem eu. Tudo o que sou
Ficou com o momento
E o momento parou."
[Fernando Pessoa, 12/12/1919]

segunda-feira, 9 de março de 2009

profundo

Submersos temos uma percepção completamente diferente dos sons. Imagine-se numa imensa piscina e tente se lembrar dos sons que chegam...

Aliás, lembre-se submerso e recapitule as sensações. São frescas essas minhas lembranças e, boas! Embora a água ainda me cause espanto e assombramento, a sua magia me envolve como mãos sedutoras que me puxam pela cintura.

A água reverbera os sons de maneira longínqua e abafada, como se fosse um sonho. E a luz, então? O que dizer sobre o efeito da luz no profundo da água?! Um caleidoscópio, uma obra de arte.

E isso tudo nos atinge e nos transforma num ser menor que se entrega ao desconhecido, à pouca gravidade, à aleatória força da falta de força sobre o próprio corpo.

simples

Acabei de sair do banho pensando em coisas simples. Gosto de ficar embaixo do chuveiro bebendo uma cerveja em lata, às vezes. A trilha sonora de hoje era Jack Johnson. Saí feliz do banho.

Coloquei uma roupa confortável. Ao sair do quarto, "dei de cara" com o Zeca no corredor. O Zeca é um gatinho super saudável que tirei das ruas na semana passada, com a ajuda do meu amigo Wassim. Ele tem apenas 3 meses. Levantei o Zeca com as mãos e estalei um beijo gostoso em seu rostinho. A sua satisfação me encheu de alegria.

Final das contas, a vida é simples. Daqui a pouco vou dormir. Que sensação boa vai comigo essa noite...

mutante


É noite e é tarde pra muita coisa. Penso sobre o que deixei para trás e a necessidade de encerrar ciclos. O desapego é tarefa importante. Com ele, nos renovamos. Também libertamos pessoas e nos libertamos. Somos mutantes em mundo mutante.

Em relacionamentos longos é comum ouvir: "quando começamos não era assim, o que houve?". Chega a ser engraçado: o que houve? Houve a vida. Ela acontece, por menos que queiramos. Transformações são naturais e nos confrontam com coisas diferentes. E, nesta troca, mudamos. Dependendo da nossa aceitação, pra melhor.

medo


Sigo juntamente com meus medos. Sigo bem. Medos lançam desafios. Forjam o caráter, desde que vistos sem reservas. Eles têm a potencialidade da força. Depende de nós.

Não precisamos ultrapassá-los sempre. Nada mais normal. Acredito que apenas os enfrentamos quando isso nos é possível. E o reconhecimento desse limite é prova de sabedoria.