segunda-feira, 11 de maio de 2009

clarices

Uma viagem rumo à alma, vagarosa porém constante. Isso me faz lembrar clarice lispector. Vejo nela a angústia da falta de resposta, o profundo sentimento de inadequação e estranhamento, o pesado trabalho de buscar sentido e a compreensão das coisas. Um questionar-se contínuo. A cratera monstruosa aberta, exposta. Ela, olhando de longe, sempre distante, sempre perscrutando a alma alheia e a sua própria. Porém, em silêncio. Escrevendo.

Como a nossa alma é única e capaz! Depende da profundidade do mergulho dentro de nós mesmos. Sinto que o rumo tem sido aberto aos poucos. É viável, é possível a conexão. Tenho sentido isso de uns tempos pra cá. Isso tudo precisa fazer sentido. E a consciência de mim mesma, ouvir minhas próprias palavras, a percepção de como estou, do que estou sentindo, porque fiz o que fiz. Esse ouvir-me parece ser o caminho.

Somos clarices, em menor ou maior grau. Não nas palavras, mas no questionamento do mundo. O importante é não fingir linearidade, é não fingir que está tudo bem, pois não está. Isso tudo oscila, neste minuto está bem, neste minuto não está, agora confortável, incômodo neste momento. Vamos de sobressalto, surpreendidos pelo estranho dentro de nós.

domingo, 10 de maio de 2009

silêncio entre as palavras

A maneira de entrar em paz com o passado é trazê-lo de volta para ser analisado, revivido. Não adianta fechar a porta e fingir que se estabeleceu uma relação de civilidade com a dor que nos fizeram passar. Isso não existe! E certamente a violência represada e a raiva guardada irão explodir.

Quem se reconciliou verdadeiramente com seu passado é porque foi honesto e trouxe todo o lixo de volta, para ser resgatado e limpo. Tenho pensado muito sobre a educação, como é visceral a educação. Essa coisa que nos imprega, que nos estrutura. A paz com o passado é construída pouco a pouco, até que (talvez!) venha o perdão.

Não recebi o carinho a que tinha direito. Sim! Porque todos nós temos direito a carinho e atenção especiais! Isso é básico, é nutrição. É claro, não sou a única. O planeta está repleto disso. Mas não quero entender o sofrimento da humanidade, quero entender o meu porque preciso me curar. E, se cada um de nós tentar esse caminho, quem sabe o mundo não fica mais leve?

Quando digo que não recebi carinho, me refiro a amor. Aquela única espécie de amor que deveria existir, porque de fato não existe outro: o sentimento espontâneo, de amar por amar, sem exigência, sem cobrança. O que tive foi manipulação e, afeto como recompensa ao adestramento. Crescer num ambiente onde se é simplesmente uma ferramenta para o ego do outro, um bicho de estimação que orgulha o dono, é ruim demais! Destrói a autoestima, detona, machuca.

Porque o dono que cria o bicho para mostrar-se a si mesmo, pode também chutar o animal sem dó porque simplesmente ele não fez o que o dono supunha que o bicho deveria ter feito. E, humilha o bicho quando o seu ego precisa de dose extra de energia. E esse dono doente cala o animal, prende e o arrasta e faz que ele execute os truques ensinados. Nesse tipo de relação nem precisa existir violência física. Ela seria bem mais fácil porque a carne doeria e ficaria simples saber a origem da dor.

Agora, a dor da alma cresce disfarçada. E, acusar quem a causou se torna estranho, porque é até difícil entender de onde ela vem. E a sutil crueldade disso é que chegamos a achar que somos culpados por sentir dor e  que, talvez, nós mesmos a tenhamos provocado.

Tudo bem... crescemos, nos tornamos adultos. Tudo isso é besteira porque nessa altura da vida precisamos ter mais controle sobre as nossas emoções, ser maduros, etc. Mentira! Isso nos machuca disfarçado de outra coisa, misturado com outros sentimentos, que damos conta de fazer de conta que não existem... Chega! Não quero mais.

sábado, 9 de maio de 2009

o que é o quê?

A gente tenta se definir. Precisa haver uma certa coerência numa dada medida de altivez. Uma balela! Não existe definição, nada de definição... Isso seria um fragmento, um corte da nossa história.

Todo mundo é profundo e é superficial, é cruel e bom, uma revelação e um embotamento. Definir-se... a necessidade de se construir através de palavras, do discurso. Não tenho medo de amar, tenho medo de amar, não preciso de amor, preciso de amor, sou autosuficiente, sou dependente, dou conta de viver sozinho. Asneiras, mentiras... Somos tudo isso, alternadamente ou ao mesmo tempo.

Estamos na estrada. Só isso... Essa é a única certeza. A gente pode até sentar na beira, preferir não andar, mas a estrada continua aí...

E, vamos levando porrada, às vezes nos escondemos, nos mostramos, temos medo, coragem. Sei não, mas acho que o importante é não congelar a nossa identidade. Ao contrário, deixar o vento da estrada passar pelo nosso corpo e, tentar não segurar a mudança. 

O aventureiro pode sentir que quer parar. Quem está parado, um dia pode se lançar do penhasco... E, nunca mais voltar... pode haver um rio lá embaixo. Um grande rio que dá para o mar!

sonhar tristeza

Sonho muito, sempre muito. Gosto disso. Os sonhos são simbólicos na maior parte das vezes. Nas exceções, sonho com pessoas ou situações reais, porém os símbolos são inevitáveis.

Meu sono é povoado de cores, sons, imagens. Uma alegoria! Essa noite, de exceção, sonhei com gente que conheço. Um sonho triste... algumas pessoas eu gostaria de esquecer. Uma, em especial, eu não gostaria de esquecer. Tenho sentido como não existe controle sobre esse tipo de coisa: esquecer ou não esquecer.

Tenho estado triste. O sonho apenas acentuou a tristeza. Tive que caminhar bastante hoje pela manhã e, no caminho, vim tentando dispersar alguns pensamentos observando um pássaro, carros, pessoas desconhecidas na rua... tentei dispersar pensamentos vendo cachorro, caminhão... a chuvinha fina que caía. 

Estou cansada...

segunda-feira, 4 de maio de 2009

amar a si mesmo


Tenho um amigo que não sai de casa há algum tempo... sairá apenas para comprar uma torneira e, almoçar comigo – quando ele decidir comprar a torneira.

Ele se interna em casa quando os sentimentos estão bagunçados. Cada um de nós tem um movimento quando os sentimentos estão bagunçados. O meu é não sair muito de mim. E, assim como o meu amigo, ficar quieta.

Tenho lido muito o Osho. Agora estou lendo "Amor, Liberdade e Solitude – Uma nova visão sobre os relacionamentos". É um livro bonito, difícil na sua simplicidade. Uma das coisas que ele traz é a beleza e a necessidade em amar a si mesmo.

Diz ele: "Não se condene. Você foi condenado demais e aceitou toda essa condenação. Agora, você fica se machucando. Ninguém se considera digno o suficiente (...). A humanidade tem vivido sob uma escura nuvem de autocondenação. Se você se condena, como poderá se desenvolver, como poderá se tornar maduro? E, se você se condena, como poderá venerar a existência? Se você não puder venerar a existência dentro de você, será incapaz de venerar a existência nos outros; será impossível".

Ôxe! Tem me parecido possível amar a mim mesma. Não sei... tem me parecido... possível...

Droga! Tenho perdido o controle, tenho dito coisas que não quero – mas têm me parecido necessárias, senão não estaria dizendo... –, tenho me machucado bem. De uma semanas pra cá percebo que tudo isso é absolutamente necessário, uma nova passagem. E, a vida vem trazendo, e eu vou vivendo.

Mas, sinto (mesmo!) que o grande segredo dessa ciranda toda é o imenso amor que preciso dar a mim mesma e, que não tenho dado. Preciso me dar colo, me perdoar, amar... Amar muito! Talvez eu esteja no caminho.