quinta-feira, 23 de abril de 2009

Alumbramento, de gui


Hoje pela manhã tive uma surpresa, daquelas tão boas (!), tipo presente grande que vem com um laçarote vistoso: uma poesia de alguém que amo muito, o Gui (Agnaldo Tonhon).

Alumbramento
Cava de dentro para fora
A melhor hora, com tuas mãos.
Primeiro saem os dedos
Depois braços e cotovelos
Até que o osso esterno, costelas,
Todo o torácico esqueleto,
Cada célula
Alarguem-se – ventres –
E saia de ti
Tu
Delgada libélula.

Olha como casca o teu antigo corpo.
Um casulo formado em torno do outro;
Os teus quadris
Rentes subindo, expelidos,
O teu sexo refletido
Nos olhos do corpo antigo.
Músculos tesos
Nervos tensos
Pêlos ouriçados.
Até que a sola branca de teus pés revele
Toda a brancura da pele
Recém-descoberta.
Restem gotas de sangue – qual rubis sobre o teu manto –
Pontilhando-a.
Ou como rosas ao fundo
Num dia branco.

Lambe a cria tua – a tua criatura,
Antiga e renovada.
Ainda o cheiro da placenta
E ainda o perfume do suor, esforço e gozo,
E ainda mais,
O olor jasmim secando as carnes do que fostes,
Enquanto assistes
Folhas, passado, despetalando-se.
Soprando os ventos
Do tempo novo,
Ansioso para ser...

(Agora voa!).

Agnaldo Tonhon – em Recife-PE, 23 de Abril de 2009, são 8h33 de um dia que resolvi dar uma trégua, voltar a falar com a poesia para abrir uma exceção à Cris (Cristina Thomé d'Além Tejo). É para ela.