quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

leve e pesado



"Nós, que somos sozinhos, não podemos ficar incomunicáveis". Ouvi esta frase dia desses e tenho pensado sobre ela. Por que não? Por que não podemos ficar incomunicáveis por um determinado período, quando precisamos do silêncio? Por que precisamos estar à disposição do outro em tempo integral ou por que o outro precisa estar à nossa disposição sempre?

Ontem à noite, assistindo ao filme "Vicky Cristina Barcelona", ouvi um personagem dizer que não gosta de rótulos, gosta de viver. De certa forma, uma coisa se une à outra. Passei boa parte da vida com o sentimento de inadequação. Movia-me entre as pessoas procurando ser aceita, moldando-me. Há algum tempo isso não é mais necessário. Tenho me fortalecido. Embora as quedas ocorram com freqüência, confio em mim e sei que viver é uma viagem, nunca um ponto único e final.

O mais importante é não ser águia em galinheiro. Nada contra ser galinha, tampouco águia. O livro de Leonardo Boff traz coisas fundamentais sobre aceitar a própria natureza. Em "A Águia e a Galinha", Boff fala sobre assumir a nossa verdade. Eu acrescentaria a importância em aceitar também a nossa natureza mutante, deixar fluir a flexibilidade. "Nos mesmos rios entramos e não entramos, somos e não somos" [Heráclito]

Podemos não nos encaixar no que o outro quer ou espera. Essencial é que nos vejamos com verdade, tolerância e que continuemos gostando de nós mesmos, embora o outro possa não gostar. 

Diplomacia é elemento necessário para viver em harmonia. Nem sempre o ataque precisa estar presente para que nos distanciemos do que a intuição apresenta como negativo. Basta o afastamento silencioso e civilizado daquilo que possa nos agredir.

Ao consultar o Osho sobre estas questões ontem à noite, ele me trouxe Condicionamento. A imagem da carta: embora tentando se esconder, é impossível não perceber toda a exuberância do leão em meio às ovelhas.

"Condicionamento: a menos que você abandone a sua personalidade, você não será capaz de encontrar a sua individualidade. A individualidade é dada pela existência; a personalidade é imposta pela sociedade. Personalidade é conveniência social.

A sociedade não pode tolerar a individualidade porque a individualidade não acompanhará o rebanho, como uma ovelha. A individualidade tem a natureza do leão: o leão move-se sozinho. As ovelhas estão sempre em rebanho, na esperança de que estar em grupo será aconchegante. Em meio à multidão, o indivíduo sente-se mais protegido, seguro. Se alguém atacar, na multidão há todas as possibilidades de você se salvar. Mas, e estando só?

Cada um de vocês nasceu leão, mas a sociedade está sempre condicionando. Ela lhes imprime uma personalidade, uma personalidade agradável, simpática, muito conveniente, muito obediente.

Comentário: Esta carta lembra uma antiga história zen a respeito de um leão que foi criado por ovelhas, e pensava que era uma delas, até que um velho leão o capturou e o levou até um lago, onde lhe mostrou o seu próprio reflexo. Muitos de nós somos como esse leão – a imagem que temos de nós mesmos não advém da nossa própria vivência direta, mas das opiniões dos outros. Uma 'personalidade' imposta de fora substitui a individualidade que poderia ter-se desenvolvido de dentro. Nós nos tornamos apenas mais uma ovelha no rebanho, incapazes de nos movermos livremente, e inconscientes da nossa verdadeira identidade. É hora de dar uma olhadela no seu próprio reflexo no lago, e de tomar a iniciativa de libertar-se do que quer que tenha sido imposto como condicionamento pelos outros, com o objetivo de fazer você acreditar em qualquer coisa a seu respeito. Dance, corra, mexa-se, fale uma língua inexistente – tudo o que for necessário para acordar o leão adormecido dentro de você."


***

Prefiro me sentir um grande felino, capaz de me mover sozinha.

Um comentário:

Anônimo disse...

putz, bingo! ando pensando muito nisso também...beijos florzinha