domingo, 10 de maio de 2009

silêncio entre as palavras

A maneira de entrar em paz com o passado é trazê-lo de volta para ser analisado, revivido. Não adianta fechar a porta e fingir que se estabeleceu uma relação de civilidade com a dor que nos fizeram passar. Isso não existe! E certamente a violência represada e a raiva guardada irão explodir.

Quem se reconciliou verdadeiramente com seu passado é porque foi honesto e trouxe todo o lixo de volta, para ser resgatado e limpo. Tenho pensado muito sobre a educação, como é visceral a educação. Essa coisa que nos imprega, que nos estrutura. A paz com o passado é construída pouco a pouco, até que (talvez!) venha o perdão.

Não recebi o carinho a que tinha direito. Sim! Porque todos nós temos direito a carinho e atenção especiais! Isso é básico, é nutrição. É claro, não sou a única. O planeta está repleto disso. Mas não quero entender o sofrimento da humanidade, quero entender o meu porque preciso me curar. E, se cada um de nós tentar esse caminho, quem sabe o mundo não fica mais leve?

Quando digo que não recebi carinho, me refiro a amor. Aquela única espécie de amor que deveria existir, porque de fato não existe outro: o sentimento espontâneo, de amar por amar, sem exigência, sem cobrança. O que tive foi manipulação e, afeto como recompensa ao adestramento. Crescer num ambiente onde se é simplesmente uma ferramenta para o ego do outro, um bicho de estimação que orgulha o dono, é ruim demais! Destrói a autoestima, detona, machuca.

Porque o dono que cria o bicho para mostrar-se a si mesmo, pode também chutar o animal sem dó porque simplesmente ele não fez o que o dono supunha que o bicho deveria ter feito. E, humilha o bicho quando o seu ego precisa de dose extra de energia. E esse dono doente cala o animal, prende e o arrasta e faz que ele execute os truques ensinados. Nesse tipo de relação nem precisa existir violência física. Ela seria bem mais fácil porque a carne doeria e ficaria simples saber a origem da dor.

Agora, a dor da alma cresce disfarçada. E, acusar quem a causou se torna estranho, porque é até difícil entender de onde ela vem. E a sutil crueldade disso é que chegamos a achar que somos culpados por sentir dor e  que, talvez, nós mesmos a tenhamos provocado.

Tudo bem... crescemos, nos tornamos adultos. Tudo isso é besteira porque nessa altura da vida precisamos ter mais controle sobre as nossas emoções, ser maduros, etc. Mentira! Isso nos machuca disfarçado de outra coisa, misturado com outros sentimentos, que damos conta de fazer de conta que não existem... Chega! Não quero mais.

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