quarta-feira, 9 de setembro de 2009

pouco mais à frente


– Dona Ana, o tempo não vai mudar.
– Mudará sim, Tião. Sou um barômetro desde criança.
– Quem sou eu para contrariá-la, Dona Ana. A senhora sempre acerta...

***

Cortei meu cabelo há alguns dias. Está novamente curto, igual a tantos outros momentos de renovação. Sinto-me bem.

Cabelo curto, cara limpa, alma leve. Levo a mim pela mão outra vez. Vagarosamente absorvo mais uma experiência. Abandono pela estrada a mágoa e a raiva.

Fico satisfeita em não colocar coisas embaixo do tapete. Demora um pouco mais encarar de frente. Só que aí, quando o que precisa ser digerido é digerido, tudo fica melhor.

Gostaria de viver muito. Queria mesmo ficar velhinha. Tenho tanta admiração pelas pessoas que acumulam e amadurecem suas histórias. Porém se a vida levar logo, irei bem. Sinto hoje coisas que jamais pensei sentir. Isso já é muito mais do que supunha alcançar.

Ouço sino dos ventos na vizinhança. Há prenúncio de chuva no céu escuro. Se ela vier, dormirei com minha velha conhecida, minha ama de leite.

***

– A chuva vem, Tião. Confie em mim.
– Eu confio, Dona Ana.

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