quarta-feira, 11 de março de 2009

o tempo


É possível arrancar um amor do corpo, da alma. É um processo solitário, que exige disciplina e distanciamento.

É como largar um vício. Como viver o luto. Um dia, mais um dia e outro sem o que amamos. O amor vai sendo morto.

Não é preciso ficar impassível diante do amor que morre. É bom que se chore, que se desespere, que a dor venha e ocupe tudo, porém solitariamente. É momento de abdicar.

Isso não é se fechar para a vida. É limpar a alma para que outro amor a ocupe, até quando este novo amor for embora novamente. O corpo nega o desejo e se prepara para o novo prazer, que certamente virá.

"Pousa um momento,
Um só momento em mim,
Não só o olhar, também o pensamento.
Que a vida tenha fim
Nesse momento!

No olhar a alma também
Olhando-me, e eu a ver
Tudo quanto de ti teu olhar tem.
A ver até esquecer
Que tu és tu também

Só tua alma! sem tu
Só o teu pensamento
E eu vendo, alma sem eu. Tudo o que sou
Ficou com o momento
E o momento parou."
[Fernando Pessoa, 12/12/1919]

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